Corriere della Sera, edição de Turim
de um artigo de Paolo Coccorese
6 de março de 2024
Os linguistas Eugenio Goria e Fabio Gasparini, da Universidade de Turim, dedicaram um trabalho de pesquisa à língua piemontesa-americana.
Uma pesquisa de campo, realizada percorrendo centenas de quilômetros nos pampas entre Córdoba e Santa Fé e entrevistando muitos descendentes daqueles 300 mil piemonteses que desembarcaram no sul da Argentina após 1875.
Parando nos muitos círculos culturais piemonteses, incluindo os de cidades como Rio Tercero, São Francisco, Justiniano Posse, General Cabrera e Paraná, os pesquisadores encontraram o “piemonteis ‘merican”, uma língua de “contato” nascida do dialeto rústico usado por camponeses, muitas vezes analfabetos, que partiram, até a eclosão da Primeira Guerra Mundial, do norte de Turim e da parte sul de Granda. Pinerolo, Savigliano, Fossano, Cumiana são as aldeias que figuram nas biografias dos herdeiros do “gringo”, ou seja, dos “brutos do campo”, como eram chamados os italianos, excluídos por não saberem espanhol.
“Assim como os brasileiros, que moram perto da fronteira argentina, falam português, português-espanhol, aqui usamos piemonteis ‘merican’ que mistura as palavras do dialeto com as do castelhano e vice-versa […] Não tínhamos nenhum estudo, mas apenas alguns traços desse estranho dialeto, rico em palavras castelhanas e construções gramaticais espanholas, usado pelos descendentes de imigrantes no final do século XIX”, explica Goria.
Com a escolarização e a integração, muitos abandonaram o dialeto, que sobreviveu graças às famílias, aos cantos e às associações. Mas se transformando em algo mestiço e novo. O piemonteso-americano, na verdade, é composto por palavras espanholas pronunciadas à maneira piemontesa. O mate vira o mato, o chacarero, o agricultor, o chacaré. Misture com o vocabulário original. Alguns se tornaram comuns. “Como ‘magun’, palavra piemontesa que expressa a tristeza do desenraizamento, também usada por falantes de espanhol”, diz Goria, referindo-se ao sentimento que os portugueses chamam de saudade.
“Surgiu uma dinâmica de perda e recuperação, possível graças às atividades dos muitos clubes também frequentados por jovens que sonham com a Europa, típica de outras línguas como árabe, russo, chinês para as segundas gerações de estrangeiros na Itália.”